Nem só de Shakespeare vivem nossos pensamentos, não é mesmo? Os operários dentro das nossas cabeças, ilustrados em Divertida Mente, estão organizando tudo o que a gente vivencia na enorme biblioteca cujas paredes chamamos de crânio. Além dos pensamentos e da organização do conteúdo primordial, há todas as informações irrelevantes que consumimos, e são elas que constroem o nosso repertório social e dão origem àquelas sacadas que arrancam elogios nas conversas: “woooow, boaaaa!”.
Ideias não nascem em árvore e caem na cabeça da gente. Não mesmo! O máximo que pode acontecer é uma inspiração ou um insight resultar em uma ideia proveitosa, mas cada pensamento é resultante do nosso acervo imensurável chamado bagagem cultural, e que, durante a nossa vida, ele é aproveitado de alguma forma. A cultura inútil é aquela que geralmente não vai agregar nada de muito importante para você, por mais interessante que seja, como o fato de o céu ser azul por conta dos reflexos da luz que é emitida pelo sol nas moléculas presentes na atmosfera terrestre. Tudo o que vemos, ouvimos, sentimos e experimentamos vai sendo separado dentro da nossa cabeça por pastas que estão interligadas, como uma enorme cadeia de informações que construirão a nossa bagagem cultural.
Por mais incrível que possa parecer, não é difícil obter esse acervo magnífico. Sabe aquela história que o João te contou na cafeteria sobre a viagem louca dele ou aquela conversa com a Isabela sobre a briga na ceia de Natal da família dela por conta das uvas-passas que colocaram na farofa? Tudo isso vai para as pastinhas, e de alguma forma você vai usar pra ter assunto em alguma conversa, fazer uma piada ou até mesmo querer saber por que, afinal, tanta implicância com o uso de uva-passa na comida.
A internet é um grande acervo de conteúdo relevante e abriga vários dos mais importantes livros, pesquisas, relatórios e a receita da maravilhosa torta de maçã que você comia há tempos. Também é terra de histórias e conteúdo considerado sem valor, como os memes, os videos engraçados, os fóruns e os debates de grupos com gente interpretando personagens, fingindo ter algo ou estar em época ou lugar do mundo que não condizem com a realidade.
Essa “cultura inútil” de mais de 1 TB na nossa cachola é conteúdo que nos possibilita gerar estratégia, solucionar algum problema e, é claro, fazer referência a algo que as pessoas vão entender quando você mencionar. Caso você seja um fã de heróis sabe o que eu quero dizer com o “eu sou fã e quero service”.
Na era da informação, com grande maioria de pessoas conectadas e sabendo de tudo o que está acontecendo a todo momento – a notícia que foi publicada ou o vídeo ou a foto que viralizou –, pode ser uma chave para aquela porta que você precisa abrir. O pensamento estratégico para aplicar essa bagagem cultural sempre aparece de alguma forma, mas o uso desse conhecimento, que é extremamente valioso, muitas vezes não é considerado de muita importância. Quando precisamos resolver algo, achar o valor X da equação que há horas estamos quebrando a cabeça para encontrar, é uma boa saída recorrer a nossa coletânea de referências, do que vimos em algum lugar ou ouvimos falar por aí.
Estabelecer comunicação com uma pessoa não é tão simples quanto possa parecer, principalmente quando a intenção é impressioná-la. Usar argumentos que ela possa conhecer e se identificar é a jogada mais certeira que existe, e para usar o próprio conhecimento como caminho para chegar lá, é preciso gastar os miolos. Às vezes, as ideias apenas brotam quando o seu cérebro associa uma coisa com a outra, soma dois mais dois e… voilà! Na verdade, isso resultou de todas aquelas referências que você já tinha, e elas estavam no seu acervo de cultura inútil, que, no final, serviram para alguma coisa.
Essa bagagem de cultural inútil é tão eficaz para chamar a atenção das pessoas que é fácil perceber o uso desse recurso nos programas de televisão, filmes, músicas e até na comunicação de grandes empresas, que de vez em quando se apropriam dessa cultura para impressionar, convencer de algo ou incentivar.
Aqui vão alguns exemplos de empresas que aplicaram o conhecimento de assuntos quentes da internet e a chamada cultura inútil em seu conteúdo, inserindo seus produtos e serviços em algum contexto, colocando sua marca no meio de todo o buzz, garantindo, assim, mídia espontânea.
O streaming Globloplay, por exemplo, usou um meme viral de 2020 da “Cabeleleira Leila” para divulgar o seu serviço e chamar a atenção do público.
Vídeo “Cabeleleira Leila”
Vídeo Campanha “Globloplayla playla”
A Netflix usou o ditado popular “Comer o pão que o diabo amassou” em um de seus vídeos promocionais para divulgar a quarta temporada da série Lúcifer.
Vídeo Lúcifer, o Pão que o Diabo amassou
O Banco Itaú usou o vídeo viral do bebê que solta gargalhadas com o som de papel sendo rasgado. Um apelo fofo para a redução do consumo de papel, incentivando os cliente a optarem pela fatura no formato digital.
O sucesso de Game of Thrones foi tão grande que a série chegou a ser considerada por muitos como uma das melhores da década, e algumas marcas, como Heinz, Magazine Luiza e Coca-Cola embarcaram nesse bonde para promover seus produtos e serviços.
Uma ideia não se constrói sozinha, ela é composta do conglomerado de referências que temos. Já diziam em Dark, série alemã da Netflix “o que sabemos é uma gota, o que ignoramos é um oceano”.
Exercitar os cérebro e anotar os insights na agenda pra não esquecer é uma forma de acessar rapidamente nosso próprio acervo, que também deve sempre ser expandido pelo consumo cultural, de livros, séries, filmes, internet, conversas, e até em bobeiras faladas no dia-a-dia ou em quantas mais outras fontes você puder ter acesso. Tudo é referência. E pode ser usada de alguma forma, algum dia, como uma oportunidade bem pensada, ou até mesmo para entender o caso do biscoito vs bolacha e por que diachos a maioria das pessoas não gostam de uvas passas com comida salgada.
Pra você, que se interessou por essa preciosidade, fizemos uma lista de lugares onde você pode alimentar essa cultura e expandir o seus conhecimentos, sem perder muito tempo do seu dia 🙂
- Follow the Colours
- BuzzFeed
- Saquinho de Lixo
- Greengo Dictionary
- Pablo Rochat
- Gifs Pra Galera de Humanas
- Perrengue Chique
- Pinterest (pra você se inspirar)
- Behance (pra você se inspirar – vol. 2)